quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Agrotóxico


José Agenor Álvares da Silva



A celeuma sobre a presença de resíduos de agrotóxicos no suco de laranja brasileiro, colocado em dúvida pelas autoridades sanitárias dos Estados Unidos, é emblemática para a discussão sobre a contaminação de alimentos por esses produtos. A presença irregular de resíduos de agrotóxicos em produtos agrícolas destinados à exportação implica em prejuízo para o agricultor brasileiro, com a devolução ou destruição do produto pelo país importador.

O agrotóxico, por definição, é um produto aplicado para matar e a linha que separa os efeitos benéficos de eliminar uma praga e os efeitos maléficos, que podem levar um ser humano à morte, é muito tênue. Por isso, esses produtos químicos têm alvos biológicos e mecanismos de ação bem definidos.

Só são autorizados se forem eficazes no combate a pragas específicas, sem destruir o alimento tratado, nem deixar resquícios em quantidades tóxicas para os consumidores. Isso porque os agrotóxicos estão associados ao desenvolvimento de alterações hormonais, de doenças do sistema nervoso central, de doenças respiratórias, de lesões hepáticas, de câncer e tantas outras enfermidades graves identificadas nos ensaios realizados em animais de laboratório e em culturas de células e tecidos. Tais ensaios têm constituído um excelente mecanismo para impedir possíveis agravos, prevalecendo-se das similaridades entre processos biológicos bem selecionados.

Dúvida sobre a eficiência da Anvisa em avaliar a qualidade dos alimentos traz uma distorção dos fatos

Nos últimos quatro anos, segundo dados das próprias indústrias do setor, o Brasil assumiu o posto de maior mercado de agrotóxicos do mundo. Mesmo assim, o caminho a ser percorrido para alcançarmos os níveis de controle que os países desenvolvidos exercem sobre essas substâncias ainda é muito longo.

Nesse cenário, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina o limite máximo de resíduos de agrotóxicos em alimentos e a quantidade total de cada agrotóxico que pode ser ingerido diariamente pelas pessoas, sem que haja risco para sua saúde. São esses os parâmetros avaliados pelo tão criticado Programa de Avaliação de Resíduos de Agrotóxicos da agência.

O programa funciona a partir da coleta de amostras de alimentos pelas vigilâncias sanitárias dos Estados e municípios em supermercados. Depois de coletados, os alimentos são encaminhados para laboratórios, onde se verifica a quantidade de resíduos de agrotóxicos em cada uma das amostras.

Entretanto, um movimento silencioso, com a sutileza de fazer inveja ao estouro de uma manada de elefantes, tenta, cotidianamente, desqualificar os resultados do programa. A dúvida sobre a avaliação de resíduos de agrotóxicos em alimentos, que é publicada anualmente pela Anvisa, traz uma notável distorção e desinformação dos fatos, com flagrante desrespeito ao mesmo tempo à lei e à ciência.

As atividades da Anvisa, nesse campo, têm o compromisso da transparência de seus atos em respeito à sociedade e no cumprimento de seu mandato de proteger a saúde humana com base na legislação nacional e nos conhecimentos científicos e tecnológicos mais atualizados da comunidade científica internacional.

As referências para a conformidade dos parâmetros medidos são divulgadas em rótulos e bulas e na página na internet dos organismos registradores de agrotóxicos: Ministério da Agricultura, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e Anvisa. São os mesmos procedimentos praticados pelos países desenvolvidos, muitos dos quais abrigam as matrizes das indústrias de agrotóxicos, que estão instaladas no Brasil.

A segurança da qualidade dos alimentos se baseia nos conhecimentos científicos e na observação dos efeitos tóxicos, agudos e crônicos que os resíduos de agrotóxicos podem gerar nas pessoas. Se o responsável pela emissão da receita agronômica ou o próprio agricultor utilizar um agrotóxico em um alimento para o qual aquele produto não foi autorizado, o ato se qualifica como ilegal e a ingestão diária segura pode ser ultrapassada. Isso resultará em prováveis danos à saúde do próprio agricultor e do consumidor.

Os efeitos agudos dos agrotóxicos aparecem nos trabalhadores rurais que os manipulam (preparadores de calda e aplicadores) e em pessoas que vivem ou trabalham nas imediações das áreas tratadas. A literatura científica constata que as doenças crônicas ocorrem em pessoas que se expõem a pequenas doses durante um tempo prolongado, como no caso de consumidores que ingerem alimentos com pequena quantidade de agrotóxico por um longo período de tempo.

Como agência reguladora da saúde, a Anvisa tem a obrigação de divulgar as informações sobre os riscos relativos à exposição a agrotóxicos. Essa informação é uma poderosa ferramenta de cobrança para que os atores envolvidos adotem medidas de correção dos problemas diagnosticados.

A Anvisa não compactua com atores que, irresponsavelmente, estimulam a omissão dos dados com o intuito de desacreditar toda a cadeia envolvida na avaliação dos resíduos de agrotóxico. Não dá para a volta da velha política de o bom a gente mostra e o ruim a gente esconde. Esse tipo de omissão só favorece aqueles cuja atuação, neste campo, se caracteriza pela política do avestruz e pelo não cumprimento da legalidade, que é o princípio fundamental em um estado democrático e de direito.

O respeito aos consumidores, em qualquer parte do mundo, é dever dos estados nacionais. Por isso, a Anvisa busca sempre aprimorar os instrumentos de avaliação dos agrotóxicos e de seus resíduos nos alimentos, para que não haja diferença entre os produtos levados à mesa do consumidor brasileiro e aqueles destinados à exportação. Os direitos do consumidor são atributos de cidadania e respeitá-los não é nenhum ato de favor ou concessão das autoridades públicas. É, isto sim, reconhecimento de uma conquista histórica da sociedade brasileira.



José Agenor Álvares da Silva é diretor da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2007 e foi ministro da Saúde entre 2006 e 2007




segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Resposta da Associação Brasileira de Agroecologia à Revista Veja

Prezado Diretor de Redação,
Referentemente à matéria de Veja, da edição de 04 de janeiro/2012, sobre o tema dos agrotóxicos, chamou-nos primeiramente a atenção o tratamento parcial e tendencioso dado ao assunto, uma vez que se trata de um tema controverso, mesmo nos meios científicos, e que recebeu apenas o veredito de profissionais com legitimidade e isenção questionáveis, considerando que é possível que alguns representem, eles próprios, um comprometimento com a indústria de agrotóxicos, a qual é, obviamente, parte interessada na venda desses produtos. Segundo, soa como prepotente, para dizer o mínimo, a Revista tentar apresentar-se como dona da verdade em um tema sensível e controverso como esse. Por uma questão de imparcialidade e ética, o que se esperaria é que a matéria desse também amplo espaço para o contraditório.
Da mesma forma, foi visível a falta de senso crítico das jornalistas, que não questionaram os “conceitos” que alguns entrevistados convenientemente tentaram afirmar como sendo “modernos”, como ocorreu, já no início da matéria, em relação ao nome “Defensivos Agrícolas” em vez de agrotóxicos. Cabe esclarecer que o termo agrotóxico é definido de acordo com a LEI Nº 7.802, DE 11 DE JULHO DE 1989, que considera “agrotóxicos e afins: a) os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos; b) substâncias e produtos, empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.” Fica claro que o termo adequado, definido por lei, para referir-se a quaisquer dos produtos acima mencionados é agrotóxico, ainda que a indústria e as entidades que representam seus interesses insistam em usar, eufemisticamente, o termo defensivos agrícolas.
Inseticidas, fungicidas, herbicidas, formicidas, etc, já carregam em seus nomes o princípio básico de sua ação: a função “cida”, sufixo originário do latim, caedere que significa matar. Não é toa que quase todos levam em seus rótulos uma CAVEIRA com as tíbias cruzadas e a inscrição "VENENO".
Sobre a afirmação de que “o Brasil é um dos países mais rigorosos no processo de registro de agrotóxicos” e que “os produtos disponíveis no mercado são seguros", não é isso que se constata na prática, uma vez que existem diversos casos em que formulações de agrotóxicos que são proibidos
em dezenas de países, permanecem, no entanto, com seu uso liberado no Brasil, como é o caso do Endossulfan, do Metamidofós e do Acefato, encontrados pela Anvisa em vários alimentos, como o pepino, pimentão, tomate, alface, cebola e cenoura. Cabe registrar e reconhecer o esforço realizado pela Anvisa para monitorar os resíduos de agrotóxicos nos alimentos, além de fiscalizar os abusos cometidos na comercialização e uso desses produtos.
No caso do Endossulfan, trata-se de um princípio ativo proibido em mais de 50 países, inclusive nos 27 da Comunidade Européia, na qual está proibido desde dezembro de 2005 e continua sendo comercializado livremente no Brasil (embora tenha tido sua fabricação proibida recentemente no Brasil desde 12-09-2010, a sua comercialização está permitida até 2012). A proibição de seu uso nos outros países deve-se ao fato do mesmo apresentar graves riscos ao meio ambiente e à saúde humana, podendo causar, entre outros, efeitos carcinogênicos, imunotoxidade e neurotoxidade. Além destas, outros produtos são causadores de patologias de pele, teratogênese, desregulação endócrina, efeitos na reprodução humana e no sistema imunológico.
A reportagem afirma, de forma irresponsável, que “não existe comprovação científica de que o consumo a longo prazo ... provoque problemas graves em seres humanos”. Segundo Faria et al. (2007)1 publicações da Organização Internacional do Trabalho/ Organização Mundial da Saúde (OIT/OMS) estimam que, entre trabalhadores de países em desenvolvimento, os agrotóxicos causam anualmente 70 mil intoxicações agudas e crônicas que evoluem para óbito, e pelo menos 7 milhões de casos com doenças agudas e crônicas não-fatais. Isso representa, sem dúvida, elevados custos para a saúde humana e ambiental. Segundo Rigotto (2011)2, ainda segundo a OMS, para cada caso de intoxicação por agrotóxicos diagnosticado e notificado existem pelo menos 50 casos não notificados.
1 Ciência & Saúde Coletiva, 12(1):25-38, 2007.
2 Raquel Rigotto, entrevista a Caros amigos, dezembro de 2011.
Apesar de vários produtos serem proibidos em diversos países, há fortes pressões do agronegócio para mantê-los autorizados no Brasil e, embora estejam em reavaliação, continuam sendo importados em larga escala pelo país.
A questão do estabelecimento de limites permitidos de resíduos de agrotóxicos em alimentos é bastante complexa. Sabemos que o estabelecimento de “níveis seguros” de venenos que poderíamos ingerir todos os dias é uma falácia. Nenhum estudo laboratorial pode comprovrar com toda certeza que determinado nível de veneno é inócuo para a saúde das pessoas. Estudos feitos com cobaias sugerem que certos níveis de resíduo parecem não produzir efeitos colaterais, até que o surgimento de técnicas mais modernas ou novas evidências científicas provem o contrário. Para alguns especialistas, a determinação de limites aceitáveis de resíduos representa, na verdade, a “legalização da contaminação”.
O lobby das empresas produtoras de agrotóxicos é evidente, como se pode perceber pelo gritante exemplo da alteração do limite permitido de resíduos de glifosato para que a CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) pudesse liberar a soja transgênica no Brasil. Em 1998 a Anvisa alterou o limite permitido de resíduos de glifosato em soja, aumentando-o em 10 vezes! Ele passou de 0,2 ppm (partes por milhão) para 2,0 ppm. Mas em 2004 o limite do veneno na soja aumentou ainda mais: foi para 10 ppm, ou seja, 50 vezes maior que o limite inicialmente permitido.
Os níveis de contaminação por agrotóxicos vão muito além dos registros de resíduos em alimentos. As águas dos rios e aquíferos estão contaminadas por venenos agrícolas. Na Chapada do Apodi no Ceará, a água que sai das torneiras tem até 12 tipos de veneno. O aquífero Jandaíra, localizado sob parte do Ceará e do Rio Grande do Norte está sendo contaminado pelos venenos utilizados na produção de banana e abacaxi. O famoso aquífero Guarani está também sendo contaminado por agrotóxicos.Os alimentos, o ar, as chuvas e até mesmo o leite materno estão contaminados de venenos provenientes das aplicações maciças nas regiões onde o agronegócio impera, como ficou constatado no Mato Grosso. Em março de 2011 foi divulgada amplamente a contaminação em leite materno com agrotóxicos, no município de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso, região dominada pela produção de soja e do milho transgênicos.3
3 Fonte: LONDRES, F. e MONTEIRO, D. Agrotóxicos no Brasil: um guia para ação em defesa da vida. RJ, 2011
4 Em: Agência de Informação Embrapa, Agricultura e Meio Ambiente. Qualidade Dinâmica e Riscos de Contaminação.
A reportagem também erroneamente afirma: “período de carência é o intervalo mínimo entre o uso do pesticida e a colheita”, no entanto, a definição correta de período de carência ou intervalo de tempo, em dias, é o tempo que deve ser observado entre a aplicação do agrotóxico e a colheita do produto agrícola para que o alimento colhido não possua resíduos dos agrotóxicos em níveis superiores aos limites máximos estabelecidos pela ANVISA. Continua a reportagem: “tempo em que o defensivo se degrada e perde sua toxicidade para os seres humanos”. Isto é uma inverdade. A pressuposta degradação ou ausência de agrotóxicos nos alimentos não significa que os problemas tenham desaparecido, pois existem os metabólitos que podem estar presentes. As conseqüências ambientais e para a saúde, em função de uma aplicação que deixou residual, podem permanecer por muito tempo. Segundo Spadotto & Gomes4 “determinados produtos químicos são rapidamente decompostos no solo, enquanto outros não são degradados tão facilmente. Algumas moléculas são moderadamente persistentes e seus resíduos podem permanecer no solo durante um ano inteiro, outras podem persistir por mais tempo. No ambiente aquático, além da hidrólise e da fotólise, os agrotóxicos podem também sofrer a degradação biológica e, ainda, a bioacumulação e a biomagnificação (bioacumulação em níveis elevados da cadeia trófica), diferenciando apenas os microrganismos nesse ambiente em relação àqueles presentes no solo”. E mais, advertem que além dos riscos da molécula original, os metabólitos ou produtos de degradação dos agrotóxicos apresentam toxicidade e ecotoxicidade com enormes diferenças em relação à molécula-mãe. Alguns
destes produtos de degradação podem ser inclusive muito mais tóxicos que o ingrediente-ativo original. A título de exemplo, pode ser citado o glifosato, que produz o ácido aminometil fosfônico (AMPA) como primeiro metabólito, que por sua vez produz outros que ainda não são investigados e que podem ser mais tóxicos para a cadeia trófica. Além desse, há o exemplo clássico do DDT que ao perder uma molécula de HCl, por degradação biológica ou ambiental, forma o metabólito conhecido como DDE, que é ainda mais resistente às degradações que o DDT.
Cabe lembrar que não é por acaso que o Brasil é considerado o campeão mundial de consumo de agrotóxicos, atingindo a incrível marca de 5,7 litros por habitante/ano. Esse dado foi, estranhamente, esquecido ou, o que é mais grave, ignorado intencionalmente pelas jornalistas, que conseguiram fazer uma matéria que destacou apenas um lado da questão, o dos “benefícios” supostamente decorrentes do uso de agrotóxicos. Lamentamos essa postura, profundamente comprometedora para uma revista que se pretende séria e, ironicamente, se intitula como “indispensável”. Perdem com isso os leitores da revista e perde, ainda mais, a sociedade brasileira, pelo nível superficial, pouco sério e, sobretudo, tendencioso como um tema tão importante como esse foi tratado na referida matéria.
Atenciosamente,
Associação Brasileira de Agroecologia

Cinco esclarecimentos sobre alimentos orgânicos e agroecológicos

27 de janeiro de 2012.

Na primeira semana de 2012, veículos da mídia de grande circulação divulgaram informações parciais e incorretas sobre o uso de pesticidas nos alimentos.
Nós, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, contestamos essas informações e, com base no conhecimento de diversos cientistas, agrônomos, produtores e distribuidores de alimentos orgânicos, aproveitamos essa oportunidade para dialogar com a sociedade e apresentar nossos argumentos a favor dos alimentos sem venenos.
1 - O nome correto é agrotóxico ou pesticida e não “defensivo agrícola”.
Como afirma a engenheira agrônoma Flavia Londres: “A própria legislação sobre a matéria refere-se aos produtos como agrotóxicos.”
E o engenheiro agrônomo Eduardo Ribas Amaral complementa: “Mundialmente o termo utilizado é ‘pesticida’. Não conheço outro país que adote o termo ‘defensivo agrícola”.
2 - O nível de resíduos químicos contido nos alimentos comercializados no Brasil é muito preocupante e requer providências imediatas devido aos sérios impactos que gera na saúde da população.
Voltamos a palavra à engenheira agrônoma Flavia Londres: “A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa. Os entrevistados na matéria são conhecidos defensores dos venenos agrícolas, alguns dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo. Os limites ‘aceitáveis’ no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa – isso pra não dizer que aqui ainda se usam produtos já proibidos em quase todo o mundo”.
O engenheiro agrônomo Eduardo Ribas Amaral nos traz outra informação igualmente importante: “A matéria induz o leitor a acreditar que não há uso indiscriminado de agrotóxicos no país, quando a realidade é de um grande descontrole na aplicação desses produtos, fato indicado pelo censo do IBGE de 2006 e normalmente constatado a campo por técnicos da extensão rural e por fiscais responsáveis pelo controle do comércio de agrotóxicos”.
3 - Agrotóxicos fazem muito mal à saúde e há estudos científicos importantes que demonstram esse fato.
Com a palavra a Profª Dra. Raquel Rigotto, da faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará: “No Brasil, há mais de mil produtos comerciais de agrotóxicos diferentes, que são elaborados a partir de 450 ingredientes ativos, aproximadamente. Os agrotóxicos têm dois grandes grupos de impactos sobre a saúde. O primeiro é o das intoxicações agudas, aquelas que acontecem logo após a exposição ao agrotóxico, de período curto, mas de concentração elevada. O segundo grande grupo de impactos dos agrotóxicos sobre a saúde é o dos chamados efeitos crônicos, que são muito ampliados. Temos o que se chama de interferentes endócrinos, que é o fato de alguns agrotóxicos conseguirem se comportar como se fossem o hormônio feminino ou masculino dentro do nosso corpo; enganam os receptores das células para que aceitem uma mensagem deles. Com isso, se desencadeia uma série de alterações – inclusive má formação congênita; e hoje está provado que pode ter a ver com esses interferentes endócrinos. Pode ter a ver com os cânceres de tireóide, pois implica no metabolismo. E cada vez temos visto mais câncer de tireóide em jovens. Pode ter a ver com câncer de mama. E também leucemias, nos linfomas. Tem alguns agrotóxicos que já são comprovadamente carcinogênicos.Também existem problemas hepáticos relacionados aos agrotóxicos. A maioria deles é metabolizada no fígado, que é como o laboratório químico do nosso corpo. E há também um grupo importante de alterações neurocomportamentais relacionadas aos agrotóxicos, que vão desde a hiperatividade em crianças até o suicídio.”
De acordo com o relatório final aprovado na subcomissão da Câmara dos Deputados que analisa o impacto dos agrotóxicos no país (criada no âmbito da Comissão de Seguridade Social e Saúde), há realmente uma “forte correlação” entre o aumento da incidência de câncer e o uso desses produtos. O trabalho aponta situações reais observadas em cidades brasileiras. Em Unaí (MG), por exemplo, cidade com alta concentração do agronegócio, há ocorrências de 1.260 novos casos da doença por ano para cada 100 mil habitantes, quando a incidência média mundial encontra-se em 600 casos por 100 mil habitantes no mesmo período.
Como afirma o relator, deputado Padre João (PT-MG), “Diversos estudos científicos indicam estreita associação entre a exposição a agrotóxicos e o surgimento de diferentes tipos de tumores malignos. Eu concluo o relatório não tendo dúvida nenhuma do nexo causal do agrotóxico com uma série de doenças, inclusive o câncer”, sustenta. Fonte: Globo Rural On-line, 30/11/2011.
4 - Não é possível eliminar os agrotóxicos lavando ou descascando os alimentos já que eles se infiltram no interior da planta e na polpa dos alimentos.
A única maneira de ficar livre dos agrotóxicos é consumir alimentos orgânicos e agroecológicos. Não adianta lavar os alimentos contaminados com agrotóxicos com água e sabão ou mergulhá-los em solução de água sanitária ou, mesmo, cozinhá-los. Os resíduos do veneno continuarão presentes e serão ingeridos durante as refeições.
Além disso é importante lembrar que o uso exagerado de agrotóxicos também faz com que estes resíduos estejam presentes nos alimentos já industrializados, portanto, a melhor forma de não consumir alimentos contaminados com agrotóxicos, é eliminar a sua utilização.
5 - Os orgânicos não apresentam riscos maiores de intoxicação por bactérias, como a salmonela e a Escherichia coli.
Segundo a engenheira agrônoma Flávia Londres: “Ao contrário dos resíduos de agrotóxicos, esses patógenos– que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos – podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples cozimento”.
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida recomenda o documentário “O Veneno está na Mesa”, de Silvio Tendler, totalmente disponível no site da campanha (www.contraosagrotoxicos.org) bem como todos os materiais disponíveis na página.
Participe você também nos diferentes comitês da campanha organizados nos diversos estados do Brasil, para maiores contatos envie e-mail para contraosagrotoxicos@gmail.com
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Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.
Secretaria Operativa Nacional
fone: (11) 3392 2660 / (11) 7181-9737
site:
www.contraosagrotoxicos.org

Revista Veja publica reportagem com esclarecimentos sobre os defensivos agrícolas

A verdade sobre os agrotóxicos

Há um mês a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), divulgou os resultados de um estudo iniciado em 2010 sobre a contaminação de alimentos por agrotóxicos - e suas conclusões deixaram quase em pânico os consumidores que se preocupam em pôr à mesa apenas aquelas frutas e hortaliças que colaborem com sua saúde.
No banco geral da Anvisa, 28% dos produtos avaliados foram considerados insatisfatórios; no topo do ranking vinha o pimentão (com assustadores 91,85 de amostras contaminadas), seguido por morango, pepino, alface e cenoura.
Estariam os brasileiros, então, intoxicando-se perigosamente cada vez que levam o garfo à boca e arriscando uma doença grave no futuro? Definitivamente, não: Quando se esmiúça o relatório, vê-se que muito do receio que ele provocou é exagerado e infundado. Para explicar porque é assim, VEJA conversou com 8 toxicologistas e engenheiros agrônomos que atuam em centros de referências no país.
Antes de mais nada: Porque os agricultores se valem de produtos que, em seu próprio nome, já trazem o sufixo tóxico?
A palavra entre 'Agrotóxico' é imprecisa e algo carregado ao julgamento de um valor - resquício do tempo, há muito tempo deixado para trás, em que estas substâncias eram colocadas no mercado sem pesquisa suficiente sobre suas propriedades e seus efeitos, e usadas de forma indiscriminada. O nome certo é 'defensivo agrícola', uma vez que esses produtos servem não para intoxicar a lavoura ou o produtor, mas sim para defender a plantação de pragas, insetos e parasitas e evitar que ela se perca.
Como foi feito o estudo da Anvisa?
O programa de análise de resíduo de agrotóxico em alimento avaliou 2.488 amostras de 18 tipos de alimentos - abacaxi, alface, arroz, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, feijão, laranja, maça, mamão, morango, pepino, pimentão, repolho, tomate. A escolha das variedades obedeceu à combinação de três parâmetros: os dados de consumo do IBGE (que levanta os itens mais comuns na mesa dos brasileiros), a disponibilidade nos supermercados e as culturas em que o uso de defensivos é costumeiramente intensivo, por serem mais numeráveis a pragas ou pestes. Os vegetais foram coletados e analisados em 2010.
Como se definiu o que é um alimento contaminado?

A classificação seguiu dois critérios: resíduo, no alimento, de defensivo acima do limite permitido e detecção do uso de defensivo não autorizado para aquela determinada cultura. Das 2488 amostras, 694 foram consideradas irregulares.
 
Quantos alimentos apresentaram resíduos de defensivos em excesso?

Apenas 3,6% dos produtos avaliados revelaram teor de agrotóxico acima do limite máximo de resíduo (LMR), índice que determina o consumo sem riscos à saúde. Ou seja, das 2488 amostras, 89 foram reprovadas. Isso pode acontecer por dois motivos: Porque o agricultor aplicou na lavoura uma dose acima da indicada ou porque desrespeitou o chamado período de carência. - O intervalo mínimo entre o uso do pesticida e a colheita, tempo em que o defensivo se degrada e perde sua toxicidade para os seres humanos.
 
Quão acima do limite de resíduos estavam esses alimentos?

Em geral, muito pouco. Segundo o toxicologista Ângelo Trapé, professor da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), esse é o quesito em que este receio é quase sempre injustificado, já que as margens de segurança são altíssimas. Para definir o nível seguro de resíduos de defensivos agrícolas que o ser humano pode ingerir diariamente, os cientistas primeiro realizam estudos em animais. O valor que não apresenta riscos para eles é então dividido por 100 - e assim se chega ao limite máximo aceitável para homem. Ou seja, o nível de resíduo detectado das amostras coletadas teria de estar 1000% acima do permitido para que se começasse a pensar em risco real.  E nenhum caso desta monta foi verificado.
 
Em 24,3% das amostras, as análises detectaram presença de defensivos não autorizados. Eles eram, então, ilegais?

Não, eles eram comercializados legalmente no país. O que acontece é que cada produto deve informar, no rótulo o tipo de alimento ao qual destina. 'para registrar um produto, o fabricante gasta milhões de dólares. E, mesmo quando a marca já está no mercado, incluir uma nova cultura no rótulo, custa entre 35 000 e 40 000 dólares', explica Luís Rangel, coordenador-geral de agrotóxicos do Ministério da Agricultura. Resultado: Como o processo é oneroso, as empresas preferem investir em defensivos que serão vendidos aos grandes produtores, como os dos setores de algodão, soja e milho, em detrimento daqueles destinados às culturas pequenas, como as hortaliças. 'Assim, quando não há defensivos registrados para eliminar pragas que atacam uma cultura pequena, o produtor se vê obrigado a recorrer ao defensivo não autorizado, mas que traz o princípio ativo do qual eles necessitam', explica Celso Omoto, professor da Faculdade de Engenharia Agronômica da Univesidade de São Paulo em Piracicaba.
 
O uso de defensivo não autorizado é prejudicial à saúde?

Não necessariamente. As pesquisas mostram que um defensivo não oferece mais ou menos riscos de saúde se aplicado neste ou naquele alimento. Ou seja, o produto x, indicado para tomate, não ficará mais tóxico, sendo usado no pimentão. 'O problema está na soma: resíduos de um mesmo agrotóxico em vários dos alimentos que constam na dieta de uma pessoa podem vir a extrapolar seu limite máximo', diz Luiz Claudio Meirelles, gerente geral de toxicologia da Anvisa. Mas a situação não é alarmante. 'Como a margem de segurança para o cálculo do LMR é alta, é muito provável que o consumo desses alimentos não ofereça nenhuma implicação à saúde' diz o médico patologista João Lauro Camargo, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu.
 
Os alimentos que lideram o ranking da Anvisa - pimentão, morango e pepino - representam riscos à saúde?
De forma alguma. Isso vale para os dezoito alimentos avaliados. Como os resíduos apresentados estão dentro de níveis seguros - quando houve excesso, ele era irrisório -, não há motivo para preocupação em termos de saúde pública' explica Ângelo Trapé da Unicamp.
É possível remover resíduos de defensivos nos vegetais?

Não, pois o defensivo penetra na polpa do alimento ou circula pela seiva da planta. Nas últimas semanas, muitas 'receitas' para remover defensivos circulam por ai - inclusive em telejornais de grande alcance - como lavar alimentos com água e sabão ou mergulhar em uma solução de hipoclorito de sódio, que nada mais é do que água sanitária diluída. Pura balela. 'A lavagem com qualquer uma destas substâncias removem micróbios e coliformes fecais, mas não resíduos químicos', explica o engenheiro agrônomo José Otávio Menten, professor da Universidade de São Paulo, em Piracicaba. A fruta e a verdura ficam limpinhas, o que é ótimo. Mas o que houver de resíduo químico nelas continuará ali.
 
Descascar o alimento, então não adianta?

Descascar o alimento ou retirar as folhas externas do maço de alface, por exemplo, elimina apenas os resíduos presentes nestas partes do vegetal. O que está nas outras partes permanece. Além disso, as cascas de muitos alimentos são altamente nutritivas, e descartá-las pode ser um desperdício.
 
Algumas hortaliças, frutas e legumes tendem a absorver mais defensivos?

Não. O que determina se algum resíduo permanecerá no alimento é o manejo do produto na lavoura: a quantidade empregada e o período de carência indicado para aquela substância em particular. Se tudo for feito conforme a bula, entre o dia da aplicação do defensivo e o da colheita, a dose correta sofrerá degradação natural com a ação dos raios solares, da chuva e dos microorganismos.
 
Ingerir resíduos de defensivos provoca doenças ou malefícios?

Não existe comprovação científica de que o consumo a longo prazo de resíduo e pesticida nos alimentos provoque problemas graves em seres humanos. 'A associação entre o uso de defensivos e a ocorrência de câncer, malformação fetal ou distúrbios neurológicos só foi demonstrada em animais expostos as concentrações altíssimas desses produtos', diz o toxicologista Flávio Zambrone, presidente do instituto brasileiro de toxicologia. Também não há caso de intoxicação provocada pela ingestão de um alimento contaminado.
 
Os defensivos oferecem risco à saúde dos agricultores?

Apenas quando eles não respeitam as regras de uso. 'Os principais efeitos adversos são problemas gastrointestinais e demartologicos provocados por exposição a doses elevadas', diz Ângelo Trapé. Os equipamentos de segurança e as preocupações recomendadas pelos fabricantes reduzem drasticamente os riscos de contaminação.
'Como o Brasil é um dos países mais rigorosos no processo de registro, os produtos disponíveis no mercado são seguros.', diz a Engenheira Agrônoma Rumy Goto da Unesp.
 
É possível reduzir o uso de defensivos no campo, sem prejudicar a produtividade?

Sim, com programas educacionais que ensinem o agricultor a escolher o produto certo, aplicar a dose correta e respeitar o período de carência para a colheita segura. O produtor pode, por exemplo, optar por agrotóxicos seletivos, que agem na praga sem extirpar seus inimigos naturais. Assim o inseticida que mata o pulgão (praga) não elimina a joaninha (que se alimenta de pulgões e, assim, promove um controle natural da praga), o que reduz a necessidade de mais defensivos. Outra solução envolve manejos agrícolas como a rotação de cultura para quebrar o ciclo de vida da praga. 'O produtor deve entender que existem diversas ferramentas para controlar pragas. Sem esse conhecimento, ele acaba optando pelo produto mais barato ou não autorizado para aquela cultura' diz o engenheiro agrônomo Celso Omoto da USP.
 
Existe alguma maneira de o consumidor se certificar da proveniência das frutas, dos legumes e das verduras que vai pôr à mesa?

Por enquanto não. Mas o Ministério da Agricultura pretende criar um cadastro de produtores multados por uso indiscriminado de defensivos agrícolas e disponibilizá-los para consulta pública em seu site.  Essa medida poderá incentivar os bons produtores a identificar seus produtos com um selo. Como já é possível encontrar nas gôndolas do supermercado.




Orgânicos em Pratos Limpos
O temor que os alimentos com defensivos agrícolas façam mal à saúde tem feito com que muitos consumidores cogitem substituir frutas, verduras e legumes convencionais por seus equivalentes 'orgânicos', ainda que tenham de desembolsar o dobro por isso.
Veja o que dizem os especialistas sobre este tipo de cultivo.
O que são alimentos orgânicos: aqueles cultivados sem o uso de agrotóxicos ou hormônios de crescimento.
O que é permitido numa cultura orgânica: plantar ervas daninhas que atraiam para si as pragas, usar adubos naturais, como esterco, e empregar extratos vegetais, como os de nim e pimenta, para combater pestes. No entanto, segundo os engenheiros agrônomos, Rumy Goto da Unesp e José Otávio Menten da Universidade de São Paulo, algumas exceções são permitidas ' para nutrirem o solo os agricultores usam fertilizantes à base de compostos químicos, como o sulfato de potássio', diz Rumy. Menten destaca ainda a utilização, na plantação orgânica, de defensivos amplamente empregados na agricultura convencional como o enxofre, a calda de fumo e a calda bordalesa (mistura de sulfato de cobre com cal). Essas substâncias, porém, não são inofensivas. 'Todos esses produtos 'orgânicos' deveriam ser submetido a avaliações', defende Menten.
Como identificá-los: desde janeiro/2011 os orgânicos vendidos em lojas e supermercados vêm com selo do Ministério da Agricultura. Nas feiras, o consumidor deve verificar se o vendedor possui o cadastro de agricultor orgânico. A lista de habilitados está no site Prefira Orgânicos. Não que isso seja garantido, entretanto. As regras para o credenciamento e fiscalização são um bocado vagas e têm muitas lacunas. Por isso mesmo, algumas grandes redes de varejo se certificam de que não estão vendendo gato por lebre testando elas próprias em laboratório, periodicamente, amostras dos vegetais que exibem em suas gôndolas.
Quem fornece o selo: O produtor pode obtê-lo de duas maneiras. A primeira é contratar uma das seis empresas credenciadas pelo governo para o serviço. Elas avaliam a qualidade do solo e da água da plantação, antes de fornecer o selo. A outra são os chamados Sistemas Participativos de Garantia (SPG), em que um grupo de produtores se reúne com consumidores, pesquisadores e técnicos, sejam eles agrônomos ou não, e solicita autorização ao Ministério da Agricultura para se autocertificar.
Quem fiscaliza: Não há fiscalização sobre o comercio de orgânicos em feiras livres. Nos outros casos ela é feita pelas próprias empresas que deve acontecer pelo menos uma vez por ano, não são claras, nem são exigidas análises periódicas para detectar eventuais resíduos de defensivos químicos nas plantações. 'Esse tipo de avaliação só ocorre quando há uma denúncia ou quando se constata um risco, como a identificação de uma plantação vizinha que utiliza produtos químicos', diz Rogério Pereira Dias, coordenador de Agroecologia  do Ministério da Agricultura.
Riscos: sem o controle adequado de produção e armazenagem, as plantas orgânicas podem ser contaminadas por fungos ou por bactérias como a salmonela  e a E. coli. Um caso celebre aconteceu na Alemanha, em junho de 2011: mais de 40 pessoas morreram e milhares foram parar no hospital após ingerir brotos de feijão de uma fazenda orgânica contaminados com E. coli. Ou seja, não só por ser orgânico um produto é necessária e automaticamente mais saudável que o similar cultivado com o auxilio de defensivos.
Fonte: Revista Veja - edição de 4 de janeiro de 2012