segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Metodologia Camponês a Camponês – breve histórico

Jorge Luiz Schirmer de Mattos

Uma ferramenta bastante útil na transição agroecológica adotada em comunidades tradicionais nos países da América Central e que poderia ser utilizada em assentamentos rurais, onde o objetivo é o empoderamento e autonomia das famílias, é a metodologia ou pedagogia Camponês a Camponês (CaC) em virtude de sua horizontalidade. Isso porque na metodologia CaC são os próprios camponeses que protagonizam o processo de construção e transmissão do conhecimento agroecológico.
O movimento, metodologia ou pedagogia CaC surgiu na Guatemala em meados da década de 1970 e se estendeu para o México, Nicarágua, Cuba e vários outros países da América Central e América do Sul (HOLT-GIMENEZ, 2006; HOCDÉ et al., 2000). Trata-se de um processo horizontal de comunicação, geração e transferência de tecnologia em que os camponeses possuem papel protagonista, uma vez que o aporte técnico (intervenção do corpo técnico) ocorre apenas para suprir aspectos que escapam aos olhos dos lideres das comunidades e dos camponeses promotores.
A figura do técnico caracteriza-se mais como um expert de processos do que de conteúdos, mas que requer uma elevada sensibilidade social e ambiental. Como princípio parte-se do que os camponeses já sabem para então operar possíveis inovações tecnológicas. A realização de intercâmbios de experiências, visitas, experimentos, mutirões em que os camponeses são os atores principais, são estratégias fundamentais para o sucesso da metodologia CaC.
Na Nicarágua, onde foi criado o Programa CaC, os camponeses que adotaram a metodologia CaC são denominados de promotores voluntários, provavelmente, em alusão ao envolvimento, despreendimento, motivação e alto grau de auto-estima em que se encontram os camponeses voluntários.
Segundo López Rodrígues (2008) são oito os princípios que embasam a metodologia CaC na Nicarágua: 1) apropriação do processo; 2) mobilização dos saberes camponeses; 3) a horizontalidade e a equidade de gênero; 4) o promotor voluntário como organizador de feitos (ações) produtivas; 5) a busca permanente de melhoria produtiva (inovação permanente); 6) os técnicos agregam valor as experiências locais; 7) empoderamento e surgimento permanente de lideres locais e 8) a missão do promotor voluntário é promover o desenvolvimento comunitário.
No Brasil a metodologia CaC surgiu, possivelmente, na Paraíba com os Agricultores-experimentadores via AS-PTA (PETERSEN e SIQUERA, 2007), principalmente no agreste paraibano, e em Pernambuco com os Agricultores-multiplicadores por intermédio do Centro Sabiá na zona da mata e com a Agroflor no agreste (PIRES e SANTOS, 2007). Segundo estes autores, várias são as experiências exitosas de agricultores tradicionais com a transição agroecológica em que a metodologia CaC teve papel central.


Referências bibliográficas

HOCDÉ, H.; VASQUEZ, I.J.; HOLT, E.; BRAUN, A.R. Towards a social movement of farmer innovation: Campesino a Campesino. ILEA NEWSLETTER, v.16, n.2, p.27-27, 2000.

HOLT-GIMÉNEZ, E. Canpesino a Campesino: voices from Latin America’s farm to farm movement for sustainable agriculture. Oakland, California: Food Firt Books, 2006. 226p.

LÓPEZ RODRIGUES, E. Campesino a Campesino Nicaragua: los princípios del promotor voluntario. Managua: Unión Nacional Del Agricultores y Ganaderos. 2008. 14p.

PETERSEN, P.; SILVEIRA, L. Construção do conhecimento agroecológico em redes de agricultores-experimentadores: a experiência de assessoria ao Pólo Sindical da Borborema. In: ENCONTRO NACIONAL DE AGROECOLOGIA, 2, Recife, 2007. Cadernos... Recife: ANA, 2007. P.103-130. 

PIRES, A.H.B.; SANTOS, J.A. Multiplicação de sistemas agroflorestais: a experiência do Centro Sabiá no agreste de Pernambuco. In: ENCONTRO NACIONAL DE AGROECOLOGIA, 2, Recife, 2007. Cadernos... Recife: ANA, 2007. P.217-232.






Palavras-chaves: agroecologia, agroecossistemas, camponês, transição agroecológica
Key word: agroecology, agroecosystem, peasant, agroecological transition