quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O veneno está na mesa

Assistam ao documentário " O veneno está na mesa" novo filme de Silvio Tendler.

         
Parte 1


Parte 2


Parte 3


Parte 4





Trabalho apresentado por Elizabete Buonora de Souza Lira na XI JEPEX

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Agricultores do Assentamento Chico Mendes III participam de cine debate na UFRPE


O Cineclube de Ciências Sociais exibiu o curta, "Derrubando Porteiras", que conta a história do Assentamento Chico Mendes III, localizado em São Lourenço da Mata/PE. Em seguida, exibiu o documentário “O Veneno está na Mesa”, novo trabalho do documentarista Sílvio Tendler. O evento foi realizado na quinta-feira (20/10), no Salão Nobre da UFRPE, às 18h30.  Depois da exibição dos filmes, houve debate sobre o abuso no uso de agrotóxicos para produção de alimentos.
Entre os debatedores, estavam: a agricultora Enilda da Silva Melo, Presidenta da Associação das Agricultoras e Agricultores do Assentamento Chico Mendes III - São Lourenço da Mata/PE; o professor e pesquisador Francisco Roberto Caporal, do Núcleo de Agroecologia e Campesinato (NAC/UFRPE) e Presidente da Associação Brasileira de Agroecologia (ABA Agroecologia); e  Jaime Amorim, Presidente dos sem terra de Pernambuco. Estavam presentes, também, várias famílias de agricultores do Assentamento Chico Mendes III.

Família dos assentados nas quatro primeiras filas


Participantes do evento

Participantes do evento

Debatedores: Jaime Amorim, Enilda da Silva e Francisco Caporal

Jaime Amorim

Enilda da Silva (Dona Nenem)

Fancisco Caporal





Palavras chaves: agroecologia, agroecossistemas, camponês, transição agroecológica

Intercâmbio - Atividade de Ensino

Este é o segundo intercâmbio entre a turma de Zootecnia e os agricultores do Assentamento Chico Mendes III,  que ocorreu no dia 19 de outubro de 2011, e teve como  objetivo definir, com os agricultores, os temas que serão abordados pelos alunos no próximo encontro.

Prof. Jorge Mattos conduzindo o intercâmbio

Alunos de Zootecnia

Agricultora Nenem


Agricultor João Mariano

Agricultora Fofinha




Palavras-chave: Agroecologia, transição agroecológica e campesinato

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Policultivo em faixa

Foi feita a implantação de um policultivo em faixas na Unidade de Referência Agroecológica localizada no Lote de seu Cecílio. A área de cultivo consistiu de cinco faixas com 5 m de largura por 20 m de comprimento, totalizando 500m2 (20 X 25m). A área recebeu preparo de solo com grade aradora e irrigação por microaspersão. Foram implantados cultivos de curto prazo (abacaxi, jerimum, milho, quiabo, melancia, feijão macassar var. Japonês, fava, cará São Tomé e macaxeira), médio prazo (mamão, maracujá e banana prata, comprida e maçã) e de longo prazo (acerola, coco anão,  graviola, jaca dura precoce, laranja cravo, laranja mimo, limão, manga espada, manga rosa, pinha e  seriguela). Ao redor da área foram semeadas duas fileiras com feijão guandu e duas de feijão de porco como quebra vento. Por fim, a área recebeu cobertura morta de capim.

Mudas de abacaxi                              Sementes de jerimum

Sementes de feijão guandu                                      Sementes de fava

Semente de feijão de porco

Semente de cará

Corte da semente de cará

Manivas de macaxeira


Plantio das mudas de abacaxi

Preparando os matumbos para o cará e a macaxeira


       
Plantio de cará                                     Plantio de macaxeira

 
Plantio de quiabo                                     plantio de milho

Palavras-chave: agroecologia, transição agroecológica e campesinato

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Feira Agroecológica em São Lourenço da Mata

          A feira agroecológica em São Lourenço da Mata é realizada todas as sextas-feiras, das 6h às 12h, na praça Dr. Araújo Sobrinho.


  Bela praça localizada no centro da cidade     

   

                                                                                Local bastante agradável 

Estacionamento próximo                           Grande variedade de produtos

 Maria Pernambuco                                         Lindalva Arlinda

Otávio Ribeiro                                                 Maria aparecida

 
 Clientes comprando

Palavras chaves: agroecologia, agroecossistema, camponês, transição agroecológica




segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Intercâmbio - Atividade de Ensino


     Na disciplina de Extensão Rural oferecida nos cursos de Ciências Agrárias da UFRPE são abordados os conceitos do Diagnóstico Rural Participativo (DRP). Uma das ferramentas do DRP é a Travessia ou Caminhada Transversal. A travessia tem sido utilizada como importante instrumento pedagógico para se conhecer, ainda que minimamente e para além da sala de aula, a realidade de assentamentos rurais. Em termos práticos são organizados intercâmbios que envolvem alunos da disciplina e assentamentos rurais ou comunidades tradicionais em processo de transição agroecológica. O intercâmbio entre a turma de Engenharia Florestal e os agricultores do Assentamento Chico Mendes III iniciou 12 de setembro de 2011. Neste encontro, os alunos e os agricultores participaram de uma chamada caminhada transversal. Divididos em três grupos, percorreram trajetos diferentes e identificaram situações representativas do assentamento com o objetivo de conhecer e levantar as potencialidades e limitações das áreas visitadas, conforme o conhecimento dos assentados. Em seguida, cada grupo de alunos e agricultores elaborou e apresentou um diagrama de travessia com as informações coletadas em campo, que geraram debate e uma melhor compreensão do assentamento. 
     O segundo dia de intercâmbio ocorreu em 05 de outubro de 2011 com doação de sementes aos assentados.  Contudo, o objetivo principal foi definir com os agricultores, temas que serão abordados pelos alunos no próximo encontro marcado para dia 21 de novembro de 2011. Os temas foram definidos de acordo com a demanda dos assentados, concernentes aos problemas identificadas durante a caminhada transversal, e com a formação dos alunos.


Momento da apresentação da proposta
Grupo 1- Clarissa Freire, Renata Silva, Rayana Marques e Alison Dias
     O grupo 1 encarregou-se de uma oficina e uma palestra, a saber:
1. Oficina sobre a utilização do Nim (Azadirachta indica A. Juss.) no controle de insetos-pragas;
2. Palestra sobre sistema de captação de água da chuva.

Grupo 2

Grupo 3

Momento da apresentação das propostas aos agricultores

Momento da escolha das propostas pelos agricultores


     Para finalizar as atividades do segundo dia de intercâmbio, os alunos fizeram doação de sementes  para o Programa de Reflorestamento em curso no Assentamento.

 
Sementes de Cedro



 

Palavras-chave: agroecologia, agroecossistema, camponês, transição agroecológica


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

A Pesquisa Participativa e Pesquisa-ação

          A pesquisa participativa tem sido mais facilmente caracterizada do que definida na literatura especializada. Haguette (1990) define como sendo um processo de: investigação, de educação e de ação, embora enfatize também a organização como um componente fundamental da pesquisa participativa (PP). Apesar da clareza com que estes componentes são explicitados empiricamente, restam muitas ambigüidades em nível das especificidades da PP quando confrontada com a pesquisa convencional.
          Borda (1983, citado por Haguette, 1990), define a PP como uma pesquisa da ação voltada para as necessidades básicas do indivíduo, que responde especialmente às necessidades de populações que compreendem operários, camponeses, agricultores e índios, levando em conta, suas aspirações e potencialidades de conhecer e agir. É a metodologia que procura incentivar o desenvolvimento autônomo (autoconfiante) a partir de bases e uma relativa independência do exterior.
          Freire (1990) diz: “No uso de instrumentos de pesquisa, a minha opção deve ser libertadora, se a realidade se dá a mim não como algo parado, imobilizado, posto aí, mas na relação dinâmica entre objetividade e subjetividade. Não posso reduzir os grupos populares a meros objetos de minha pesquisa. Simplesmente não posso conhecer a realidade de que participam a não ser com eles, como sujeitos também deste conhecimento que, sendo para eles, um conhecimento do conhecimento anterior (o que se dá ao nível da sua experiência cotidiana) se torna um novo conhecimento. Na perspectiva libertadora em que me situo, a pesquisa, como ato de conhecimento, tem como sujeitos cognoscentes, de um lado, os pesquisadores profissionais; de outro, os grupos populares e, como objeto a ser desvelado, a “realidade concreta”.
          Thiolent (2004), utiliza o termo metodologia da pesquisa-ação, definindo-a como sendo um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.
          Englobando os conceitos acima citados, Hagette (1990), afirma que a PP se coloca a serviço de grupos ou categorias sociais mais desprovidas e exploradas. Ela busca não somente desencadear ações susceptíveis de melhorar as suas condições de vida, mas também desenvolver a capacidade de análise e resolução dos problemas que enfrentam ou com os quais convivem cotidianamente. Torna-se, pois, importante que a PP esclareça „para quem‟ se trabalha. O pesquisador não é neutro, pois se coloca a serviço dos mais oprimidos e desfavorecidos. Esta „tomada de posição‟ longe de ser fácil, necessita de um trabalho permanente de reflexão crítica do pesquisador sobre as implicações teóricas e metodológicas de sua intervenção e do processo de pesquisa. Essa função que o pesquisador desempenha constitui determinado poder que não deve ser mascarado por uma ideologia de orientação neutra e não-diretiva.
          Boterf (1987), afirma que não existe um modelo único de pesquisa participativa, pois se trata, na verdade, de adaptar em cada caso o processo às condições particulares de cada situação concreta (os recursos, as limitações, o contexto sócio-político, os objetivos perseguidos, etc.). Diante disto, o autor não propõe instrumentos, mas somente alguns passos metodológicos que deverão ser adaptados a cada projeto específico. Assentadas essas considerações o modelo de pesquisa participante, comporta quatro fases:

a) Primeira fase - a montagem institucional e metodológica da pesquisa participante. Aqueles que promovem a PP, em associação estreita com as organizações representativas da população, devem realizar as seguintes tarefas:
  • discussão do projeto de PP com a população e seus representantes;
  • definição do quadro teórico da PP, isto é, objetivos, conceitos, hipóteses, métodos, etc.;
  • delimitação da região a ser estudada;
  • organização do processo de PP (instituições e grupos a serem associados, distribuição das tarefas, procedimentos e partilha das decisões, etc.);
b) Segunda fase - o estudo preliminar da região da população envolvida. O diagnóstico preliminar e provisório inclui três partes:
  • a identificação da estrutura social da população pesquisada;
  • a descoberta do universo vivido pela população de pesquisados e dos principais acontecimentos de sua história;
  • o recenseamento dos dados sócio-econômicos e tecnológicos.
          Estes três tipos de informação não são independentes entre si, é necessário estudar as suas relações: as necessidades experimentadas e expressas, por exemplo, não são independentes da posição ocupada do processo de produção por aqueles que as experimentam. Trata-se na verdade, de três momentos complementares na unidade do diagnóstico.

c) Terceira fase - análise crítica dos problemas considerados prioritários e que os participantes da pesquisa desejam estudar.
          Esta fase é consagrada a um primeiro trabalho de análise crítica dos problemas considerados prioritários na fase precedente. Sugere-se a formação de „grupos de estudo‟ que devem ser compostos de todos os atores envolvidos (pesquisadores, alunos, habitantes da comunidade).
          É importante assinalar que se trata aqui de um primeiro trabalho de análise crítica, pois tal análise não pode ser concluída numa etapa anterior a própria ação.
          O objetivo das atividades de análise crítica é o de promover, nos grupos de estudos, um conhecimento mais objetivo dos problemas e da realidade. Deve-se partir dos fenômenos para buscar o essencial, além das aparências e das relações cotidianas e imediatas. Os problemas não devem somente ser descritos, mas explicados, a fim de se procurar as estratégias possíveis de ação.

d) Quarta fase - programação e realização de um plano de ação (inclusive ações educacionais) para contribuir para a solução dos problemas. O plano de ação elaborado a partir dos problemas analisados deve comportar:

  • atividades educativas que permitam analisar os problemas e as situações vividas;
  • medidas que possam melhorar a situação a nível local;
  • ações educativas que tornem possível a execução de tais medidas;
  • ações que encaminhem soluções a curto, médio ou longo prazo, a nível local ou numa escala mais ampla.
          Este plano de ação bem como a sua realização deve, por sua vez, dar lugar a um processo de feedback, isto é, a uma discussão e avaliação permanente de sua orientação, de seu conteúdo e de sua realização.
          O objetivo visado nesse momento é o da participação da população na esfera das decisões, do mesmo modo que ela esteve presente nas etapas anteriores do diagnóstico e da análise dos problemas.
          O processo da pesquisa participante não termina nesta quarta fase descrita. A análise crítica da realidade e a realização de ações programadas conduzem à descoberta de outras necessidades e de outras dimensões da realidade. A ação é uma fonte de conhecimentos e de novas hipóteses. O diagnóstico, a análise crítica e a ação constituem, assim, três momentos de um processo permanente de estudo, de reflexão e de transformação da realidade, os quais se nutrem mutuamente.          

Referências Bibliográficas

BORDA, O.F. Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o significado e o papel da ciência na participação popular. In: BRANDÃO, C. R. (Org.) Pesquisa participante. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. P. 42-62.
BOTERF, G.L. Pesquisa participante: propostas e reflexões metodológicas. In:
FREIRE, P. Criando métodos de pesquisa alternativa: aprendendo a fazê-la melhor através da ação. In: In: HAGUETTE, T.M.T. Metodologias qualitativas na sociologia. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1990.
THIOLENT, M. Metodologia da pesquisa-ação. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2004. 107p.

Palavras chaves: agroecologia, agroecossistema, camponês, transição agroecológica


Concepção de ciência

          Historicamente, o termo pesquisa tem sido associado a complexas elaborações de especialistas e estudiosos que tem produzido volumosos trabalhos ditos científicos, redigidos numa linguagem inacessível ao comum dos homens e que, via de regra, permanecem nas prateleiras das bibliotecas rotulados como coisa de intelectual e que, como tais, não tem nada a ver com a vida real. Essas produções têm sido reconhecidas como inúteis ou pouco utilizadas para resolver os problemas que tem afligido a humanidade (SILVA, 1991).
          Hoje, a comunidade ocidental de cientistas especializados tende a monopolizar a definição de ciência e a decidir o que é ou não científico. Além do mais, esta comunidade exerce uma nítida influência sobre a manutenção do status quo político e econômico que cerca o sistema industrial e capitalista dominante. Sob essas condições, evidentemente, a produção de conhecimento neste nível acha-se orientada para a preservação e fortalecimento do sistema (BORDA, 1999).
          Prega-se uma pretensa neutralidade objetiva para a ciência que passa a afirmar, categoricamente, sua independência em relação a qualquer subjetividade. Pautando-se por paradigmas puramente formais, a ciência se aliena da realidade social, reduzindo-se à função de simples fornecedora de justificativas ideológicas para a tecnocracia, fundando-se, sobretudo, no culto e na fidelidade ao que denomina racionalidade humana (SILVA, 1991).
          Nesse caso, a ciência se reduz a um conjunto de conhecimentos „puros‟ ou „aplicados‟ produzidos por métodos rigorosos, comprovados e objetivos. Verifica-se, todavia que esse modelo de ciência vem sendo seriamente questionado, na medida em que se verifica que o próprio objeto da ciência é construído por opções valorativas, com ativa participação da subjetividade do cientista, homem ou mulher, que se encontra inserido numa realidade. A ciência não passa de um produto humano, não podendo ser, portanto, pura, autônoma ou neutra, pois é seriamente marcada pela sociedade e, como tal, reflete e expressa inevitavelmente as suas características e suas contradições (SILVA, 1991).

Referências Bibliográficas

BORDA, O.F. Aspectos teóricos   da pesquisa participante: considerações sobre o significado e o papel da ciência na participação popular. In: BRANDÃO, C. R. (Org.) Pesquisa participante. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. P. 42-62.
SILVA, M. O. S. Refletindo a pesquisa participante. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1991. 195p.

Palavras chaves: agroecologia, agroecossistema, camponês, transição agroecológica


Certificação Agroecológica


          A Rede Ecovida de Agroecologia tem manifestado uma postura contrária à certificação Externa (por terceiros) e tem praticado a certificação participativa, que consiste na certificação por meio de uma rede de associados, mas que atende as normas da Instrução Normativa 007, uma vez que contempla a existência de uma comissão técnica, conselho de certificação e de regulamentação (VAILATI et al., 2003). A Certificação Participativa é definida por SANTOS e MAYER (2007) como um "processo de geração de credibilidade em rede realizado de forma descentralizada, respeitando as características locais, que visa aprimorar a Agroecologia e assegurar a qualidade de seus produtos através da participação, aproximação e compromisso entre os agricultores, os técnicos e os consumidores".


Referências Bibliográficas


SANTOS, L.C.R.; MAYER, P.H. A experiência da Rede Ecovida de Agroecologia no sul do Brasil. REVISTA BRASILEIRA DE AGROECOLOGIA, v.2., n.2, p.1800-1804, 2007.
VAILATI, J.; CORTÉS, D.M.M.; PIRANI, P.S.H. Princípios e procedimentos de certificação de produtos orgânicos. In: STRINGHETA, P.C.; MUNIZ, J.N. Alimentos orgânicos: produção, tecnologia e certificação. Viçosa: UFV, 2003. P.409-452.

Palavras-chave: agroecologia, transição agroecológica e campesinato


segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Ciência Popular ou Sabedoria Popular

          Entende-se por ciência popular o conhecimento empírico, ou fundado no senso comum, que tem sido uma característica ancestral, cultural e ideológica dos que se acham na base da sociedade. Este conhecimento lhes tem possibilitado criar, trabalhar, interpretar, predominantemente com os recursos naturais diretos oferecidos ao homem. Este conhecimento não é codificado segundo os padrões da forma dominante e, por esta razão, é menosprezado como se não tivesse o direito de articular-se e expressar-se em seus próprios termos. Mas este conhecimento popular também possui sua própria racionalidade e sua própria estrutura de casualidade, isto é, pode-se demonstrar que tem mérito e validade científica (BORDA, 1999).
          Este conhecimento empírico muito naturalmente permanece fora da estrutura científica formal construída pela minoria intelectual do sistema dominante, por representar uma infração a suas regras. Assim, por exemplo, os costumes práticos de um curandeiro camponês são inaceitáveis a um médico. Essa inaceitabilidade provém do fato de que os costumes do curandeiro ignoram e ultrapassam os esquemas institucionais do médico (BORDA, 1999).
          Diante da existência de paradigmas científicos que servem aos interesses dos grupos social e economicamente dominantes, torna-se necessário contrapor paradigmas alternativos construídos a partir de uma aproximação com os setores populares e às suas organizações de base, com o intuito de entender de dentro a versão de sua própria ciência prática, e de sua reprimida extensão cultural, e buscar formas de incorporá-las a necessidades coletivas mais gerais, sem fazer com que percam sua identidade e sabor específicos (GAJARDO, 1987).
          Nesse sentido, a Agroecologia, como uma ciência emergente e transdisciplinar, pode ser uma alternativa de referencial teórico para os projetos de pesquisa em que o interesse é reconhecer o conhecimento popular como um conhecimento válido (MDA, 2004).


Referências Bibliográficas

BORDA, O.F. Aspectos teóricos da pesquisa participante: considerações sobre o significado e o papel da ciência na participação popular. In: BRANDÃO, C. R. (Org.) Pesquisa participante. 8. ed. São Paulo: Brasiliense, 1999. P. 42-62.
GAJARDO, M. Pesquisa Participante: propostas e projetos. In: RODRIGUES. C. Repensando a pesquisa participante. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. P.15-48.
MDA. Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. 2004. Disponível em: Acesso em: Jan. 2005.



Palavras-chave: agroecologia, agroecossistema, camponês, transição agroecológica 


Agricultura Familiar

          Os agricultores familiares já foram chamados de pequenos produtores, pequenos agricultores, colonos, camponeses, entre tantas outras definições. Para muito estudiosos, o conceito de agricultura familiar engloba todas as definições anteriores. Para outros, no entanto, este conceito é muito amplo, dificultando o seu entendimento (KALNIN, 2004).
          É intenso o debate sobre a agricultura familiar, seus elementos caracterizadores, sua dinâmica, viabilidade e lógica econômica, mas o elemento chave mais importante para definir os produtores familiares é produzir com base na mão-de-obra familiar. Desta forma, as unidades de produção familiares não recorrem à mão-de-obra assalariada a não ser de forma ocasional ou em quantidade inferior à mão-de-obra familiar (GUANZIROLI et al., 2001).
          Lamarche (1997), prefere usar o termo exploração familiar que possibilita uma aproximação entre as diferentes formas conceituais e empíricas da agricultura familiar, definindo-o “como uma unidade de produção agrícola onde a propriedade e o trabalho estão intimamente ligados à família”. No modelo de análise deste autor, três grandes “tipos-ideais” de agricultores familiares são identificados, a saber: 1) aqueles cuja finalidade essencial não seria a reprodução enquanto unidade de produção, mas a reprodução familiar (modelo familiar); 2) aqueles que estão interessados apenas na sobrevivência da família (modelo de subsistência); e 3) àqueles motivados por um tipo de exploração agrícola organizada e orientada para a obtenção de “um ganho máximo” (modelo de empreendimento agrícola).
          A agricultura familiar brasileira é marcada profundamente pelas origens coloniais da economia e da sociedade, com três grandes características: a grande propriedade, as monoculturas de exportação e a escravatura. A fragilidade e a dependência social e política desse extrato de agricultores estão, portanto, estreitamente relacionadas com os eventos que propiciaram o surgimento das grandes propriedades, a partir de 1850, com os ciclos econômicos do açúcar e do café, com a ocupação do sertão e a colonização do sudeste e do sul, e com a modernização da agricultura, efetuada a partir da metade dos anos 60. A ocupação mais tardia do centro do país, a abolição da escravatura e a imigração estrangeira superpuseram outros modelos sem, contudo, apagar totalmente os traços originais (GUIMARÃES FILHO et al., 1998).
          A modernização, na realidade, impôs modificações indiscutíveis no perfil técnico e econômico da agricultura brasileira, mas não foi capaz de fazê-lo sem exclusão de uma parcela importante da pequena produção que continuou dependente da grande propriedade ou desapareceu como conseqüência da migração de seus componentes para a periferia dos centros urbanos (GUIMARÃES FILHO, et.al., 1998).
          A agricultura familiar, apesar de todas as dificuldades representa mais de 84% dos imóveis rurais do país, que são representados por mais de 4,1 milhões de estabelecimentos no meio rural. São também responsáveis por, aproximadamente, 40% do valor bruto da produção agropecuária, 80% das ocupações produtivas agropecuárias, e parcela significativa dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros, a exemplo do feijão (70%), da mandioca (84%), dos suínos (58%), da bovinocultura de leite (54%), do milho (49%), e de aves e ovos (40%) (MDA, 2003).
          Guimarães Filho et al. (1998), afirmam que algumas constatações são bastante indicativas do potencial de viabilização da unidade agrícola familiar, se bem orientada e apoiada por políticas públicas adequadas. Entre essas constatações destacam-se:

• Seu papel “amortecedor” da violência das crises econômicas face à sua capacidade de absorção de mão-de-obra;
• A continuação do atual modelo de desenvolvimento agrícola significará, em curto prazo, para o Brasil, uma redução dos atuais 25% da população rural para níveis em torno de 10%, o que representa um acréscimo insuportável nos já “inchados” grandes centros urbanos do país;
• Garantia de maior estabilidade da produção e da oferta de produtos básicos da alimentação;
• Pela valorização prioritária das potencialidades locais, a agricultura familiar se apresenta como capaz de enfrentar o desafio do abastecimento dos grandes centros urbanos mormente no que tange a certos alimentos básicos de menor interesse ou não contemplados pela agricultura patronal. Menos dependente do exterior, portanto para provisionamento dos fatores de produção, a agricultura familiar é menos sensível às flutuações de oferta de preços de matérias-primas e às interrupções de importações.
• Seu favorecimento, quando há segurança de posse da terra, de melhor preservação do meio ambiente e de uma gestão mais ordenada no espaço rural. Isto se deve às características de seu modelo diversificado de produção, em contraste com o modelo produtivista de monocultivo predominante na agricultura patronal. Os monocultivos, geralmente associados à mecanização intensiva, além de implicarem maiores riscos do ponto de vista econômico, implicam naturalmente, também maiores problemas de ordem ecológica, já que as monoculturas representam uma radical simplificação do ecossistema agrícola.

Referências Bibliográficas

GUANZIROLI, C. E. Agricultura familiar e reforma agrária no século XXI. Rio de Janeiro: Guaramond, 2001. 288p.
GUIMARÃES FILHO, C. et al. Pesquisa e desenvolvimento: subsídios para o desenvolvimento da agricultura familiar brasileira. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1998. 40p. (Agricultura familiar, 1).
KALNIN, J. L. Desenvolvimento local/regional focado na agroindústria familiar: experiências em Santa Catarina. 2004, 215 f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção e Sistemas), Universidade Federal de Santa Catarina.
LAMARCHE, H. A exploração familiar como conceito de análise. In: LAMARCHE, H. (Org.) A Agricultura familiar. 2. ed. Campinas: UNICAMP, 1997. 336p.
MDA. Programa de agroindustrialização da agricultura familiar. 2003. Disponível em: Acesso em: Jan. 2005.

Palavras chaves: agroecologia, agroecossistemas, camponês, transição agroecológica 


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A Agroecologia e a Transição Agroecológica

Jorge Luiz Schirmer de Mattos.

          A agroecologia, ciência ou campo do conhecimento emergente e em construção, surgiu para fazer um contraponto ao paradigma dominante da ciência moderna que se materializou na fragmentação do conhecimento e naquilo que Boaventura de Souza Santos (2006) denominou de “fenômeno global de industrialização da ciência”. Pode-se dizer que o desdobramento deste arcabouço teórico no espaço rural configurou-se num processo conhecido como modernização conservadora, via difusionismo, em que o setor hegemônico da sociedade instrumentalizou a ciência para legitimar a sua dominação. A ciência moderna, ao produzir um conhecimento disciplinar segregou a organização do saber na medida em que foi orientada para policiar as fronteiras entre as disciplinas, reprimindo os que quisessem transpô-las. Isso sem falar no desprestígio que acometeu os saberes não científicos.
          A agroecologia, ao traçar caminho próprio, distanciou-se do engessamento disciplinar e linear e buscou fundamentação na interface com outras áreas do conhecimento (agronomia, ecologia, sociologia, antropologia, educação, economia, comunicação, física, história, etc.) para fundar sua matriz teórica, inaugurando aquilo que poderia ser designado de referencial transdisciplinar (Figura 1).
           A agroecologia, enquanto campo de conhecimento transdiciplinar, ao propor um diálogo de saberes entre o conhecimento local, endógeno, popular e o conhecimento científico rompeu com a idéia de que o conhecimento válido é somente o científico. Em verdade, a agroecologia ao dialogar com outras formas de conhecimento deixou-se penetrar por elas (SANTOS, 2006). Não se trata, portanto, de volta ao passado, mas de reconhecer que existem outras formas de conhecimento e que o saber popular (local), passado de geração a geração também deve ser considerado válido e pertinente em se tratando da construção do campo de conhecimento agroecológico. Para Gusmán (2005), a agroecologia pretende ativar o potencial endógeno, gerando processos que dêem lugar às novas respostas ou façam brotar as velhas, se estas forem sustentáveis.
          Com o advento da agroecologia a visão antropocêntrica de conhecer a natureza para dominá-la, transformá-la e controlá-la perde terreno para a visão ecocêntrica, em que o homem se (re)encontra com a natureza. Ademais, a visão ecocêntrica rompe com a fronteira que se estabeleceu entre o ser humano e a natureza, na medida em que engendra a (re)significação da relação homem-natureza em bases mais sólidas de co-evolução (GUSMÁN, 2006), com perspectivas eco-sociais e eco-sistêmicas. É, portanto, essencialmente relacional, dialógica, interligada indicando que tudo que existe co-existe, que se estende além da ecologia natural englobando a cultura, a sociedade, a mente e o individuo (MORAES, 2004).
          A agroecologia fornece as bases científicas e não científicas, os princípios, os conceitos e as metodologias que orientam o redesenho do agroecossistema na transição agroecológica. A transição agroecológica compreende a mudança de um modelo de desenvolvimento e agricultura industriais para modelos de desenvolvimento e de agriculturas sustentáveis (CAPORAL e COSTABEBER, 2004).





Figura 1 – Representação     esquemática    do    enfoque
                científico   da   agroecologia   e    da   transição
                Agroecológica.    Adaptado    de     Caporal    e
                Costabeber (2004), (MATTOS, 2008).

          O modelo de desenvolvimento industrial de agricultura, concebido com o advento da “revolução verde”, invocou para si o propósito de resolver em escala global o problema da fome e da pobreza no mundo. No entanto, no “mundo em desenvolvimento” a miséria, a escassez de alimentos, a desnutrição, o declínio nas condições de saúde e a degradação ambiental e a concentração de renda continuam sendo problemas (ALTIERI, 2001). Segundo Gliessman (2001) a agricultura em escala global tem sido muito bem sucedida, satisfazendo uma demanda crescente de alimentos durante a última metade do século XX. Todavia, a despeito de seu sucesso o sistema de produção global de alimentos está no processo de minar a própria fundação sobre a qual foi construído. Isso porque as técnicas, as inovações, as práticas e as políticas que permitiram aumentos na produtividade via “revolução verde” também minaram a sua base, com a retirarada excessiva e degradação dos recursos naturais da qual a agricultura depende (o solo, reservas de água e a diversidade genética natural), bem como criaram dependência de combustíveis fósseis não renováveis e ajudaram a forjar um sistema que cada vez mais retira das mãos dos produtores e assalariados agrícolas a responsabilidade de produzir seus próprios alimentos. O desenvolvimento tecnológico nos separou da natureza ao invés de nos unir a ela e a exploração da natureza também se tornou à exploração do homem (SANTOS, 2006). De fato, o crescimento do processo de mercantilização foi de tal ordem, que de uma situação em que a reprodução das famílias camponesas era em grande parte autônoma, passou-se a outra situação, em que a reprodução tornou-se dependente do mercado e não dos agroecossistemas (GUSMÁN, 2005).
          O processo de transição agroecológica transcende os aspectos relativos a produção agrícola e vai além do processo de “ecologização” da agronomia ou da agricultura, na medida em que lhe é incorporada uma abordagem multidimensional: histórica, econômica, biológica, social, ambiental, cultural, educativa, política, normativa e ética (Figura 2).




Figura 2 – Representação esquemática das dimensões da transição agroecológica (MATTOS, 2008).


          O aspecto transicional e o enfoque multidimensional ganham terreno, sobretudo porque o processo de mudança para as agriculturas (de base ecológica) e desenvolvimento sustentáveis requer uma lógica, um tempo de maturação, próprias da agricultura familiar camponesa, que dependem de reflexões e atos essencialmente humanos, culturais, sociais e educativos, para sua efetivação. Isso porque são reflexões e atos constituídos por sujeitos históricos repletos de signos, de sonhos, culturas, desejos, valores e sentimentos de pertença próprios de quem vive na “terra” e faz parte dela. O caráter transicional também ganha terreno porque está consubstanciado em princípios não dogmáticos que se pretendem articuladores de uma sociedade efetivamente sustentável, que implica mudanças de atitudes e valores sempre renovados. Contudo, este processo transicional está longe de ser considerado como algo pacífico, pré-determinado e tampouco pronto e acabado, pois encontra-se sob a disputa de dois projetos de sociedade que geram tensões e conflitos interna e externamente ao agroecossistema. E a depender das opções dos atores sociais envolvidos poderá se trilhar o caminho em direção a modelos mais sustentáveis ou que referendem o modelo hegemônico/convencional (Figura 3).


Figura 3 – Representação esquemática da transição agroecológica (MATTOS, 2008).

          A agroecologia utiliza como unidade de análise o agroecossistema para compreender as possíveis interações entre as partes do sistema e a relação destas com o todo com base numa visão ecocêntrica, eco-social e eco-sistêmica do sistema, em oposição à visão antropocêntrica, fragmentada, reducionista e mecanicista de ciência que privilegia o estudo das partes isoladas do todo do sistema. Diz-se que o agroecossistema é um ecossistema modificado pela ação antrópica (GLIESSMAN, 2001), face ao desenvolvimento da agricultura para se obter produtos/alimentos. Portanto, o agroecossistema é um local de produção agrícola, por exemplo uma propriedade agrícola, um assentamento, uma bacia hidrográfica, mas também pode ser compreendido essencialmente como um espaço de produção-consumo-vida.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ALTIERI, M. Agroecologia: a dinâmica produtiva da agricultura sustentável. 3 ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001. 110p.

CAPORAL, F.R.; COSTABEBER, J.A. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA, 2004. 24p.

GLIESSMAN, S.R. Agroecologia: processos ecológicos e agricultura sustentável. 2.ed. Porto Alegre: UFRGS, 2001. 653p.

GUSMÁN, E.S. Agroecologia e desenvolvimento rural sustentável. In: AQUINO, A.M.; ASSIS, R.L. Agroecologia: princípios e técnicas para uma agricultura orgânica sustentável. Brasília: Embrapa Informação tecnológica, 2005. P.133-146.

GUSMÁN, E.S. Desde el pensamiento social agrario. Córdoba: Universidad de Córdoba, 2006. 288p.

MATTOS, J.L.S. Agroecologia – paradigma emergente. Curso de formação em Agroecologia para Extensionistas do Instituto Agronômico de Pernambuco. Carpina, 2008.

MORAES, M.C. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no século XXI. Petrópolis: Vozes, 2004. 342p.

SANTOS, B.S. Um discurso sobre as ciências. 13. ed. São Paulo: Cortez, 2006. 92p.

Palavras-chave: agroecologia, transição agroecológica e campesinato